quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Carta para minha mãe

Mãe,
como já dizia aquele velho ditado, pau que nasce torto, morre torto. Sendo assim, eu desejo que na minha próxima vida, se eu puder escolher ser sua filha de novo ( e se vc tb me escolher como filha), vou pedir a Deus que Ele me faça uma menina linda, com toda genética puxada pro seu lado, com o rosto da Valquíria, que vc tanto admira, e com toda delicadeza dela também, sem contar as habilidades como dona-de-casa, mãe, esposa, filha, acima de tudo. Que eu menstrue com, pelo menos, 12 ou 13 anos. Que eu fale francês fluentemente. Que Deus permita que eu tenha um porte físico com, no mínimo, 170 cm e uns 54 kg, nunca magra demais pra que vc não precise me levar em todos os endocrinologistas e pediatras da cidade para que eu cresça e engorde e não tenha cara nem de apática, nem de anêmica, nem de raquítica. Que eu seja extrovertida, comunicativa, engraçada e que, de forma alguma, tenha o terrível gênio do meu pai. Que eu ame os trabalhos domésticos e te ajude todos os dias da minha adolescência, sempre com um sorriso no rosto e uma satisfação por ver tudo brilhando e organizado como vc gosta. Que eu nunca esconda nada que vc. Nunca dê um passo errado, para que não te conte, com vergonha e medo de apanhar. Que aos 15 anos, eu entre para o curso de Magistério e seja destaque, aliás, que continue a aluna número 1 que fui em todos os outros anos. Que eu conclua o curso. Que eu vá dar aulas e à noite cursar Pedagogia para que, ao me formar, eu abra uma escolinha de educação infantil. E que a essa altura da vida eu veja no Marcelo o amor da minha vida e que me case com ele, virgem, de noiva, na igreja e no cartório. Ficarei tão feliz em ver vc ao meu lado ali no altar, me olhando com orgulho... Que uns dois anos depois nós tenhamos um filho maravilhoso e que o segundo venha uns 2 ou 3 anos mais tarde.Que vc compareça ao batizado deles na Igreja de Santana. Que eu volte aos 54kg uns meses após o parto. Que minha casa esteja sempre impecável, para que eu possa recebê-la sem sentir vergonha e sem me irritar por vc chegar e querer "dar um jeitinho".
Nesse ponto, eu já devo estar com a idade que tenho hoje.
Agora, pensando bem, acho uqe devo lhe pedir mil desculpas de todo meu coração, mas acho que na hora H, olho no olho com o Chefe, eu não vou ter coragem. POrque com todo esse script que vc sonhou pra mim, todo perfeitinho, eu não seria nem um tiquinho feliz como eu sou hj, gorda, baixinha, com meu Pedro, meus filhos bagunceiros, minha casa zoneada, meus cursos incompletos, minhas faculdades malucas abandonadas e meu terrível gênio do meu pai.
Eu só queria que vc se orgulhasse de mim. Gostaria que vc fosse feliz e satisfeita por me ver feliz e realizada. Acho que quero demais. Essa é a única coisa que me faz triste. A vida não é um "grande drama".
Lau

3 comentários:

Adri disse...

Nossa Laura que bonito isso que voce escreveu... não somos perfeitos, somos o que somos e se dane os outros que nao gostem... bju boa sorte!

Carlota e a Turmalina disse...

Putz

Mudando uns 2 ou 3 nomes próprios e uns , no máximo 2, adjetivos, esta é uma carta que eu poderia entregar para minha mãe tranquilamente, sem medo de errar...
Mas eu acho que eu aprendi à me relacionar melhor com o mundo da forma que sou muito por conta dela.
Eu sei que ela me ama, mas daquele jeito sempre durão...
Ninguém falou que ia ser fácil :o)
Bjos

Gisa disse...

Oi Laura, eu sou a Gi, do LV da Fal. Eu moro em Sorocaba e gostei muito do que vc escreveu. Acho que quase todas as filhas tem um problema parecido com as mães: não somos nem de longe parecidas com aquilo que elas sonharam.
Mas vc descreveu muito bem o orgulho e felicidade de sermos quem somos.
Eu tenho um blog, o Bloggi (www.bloggi-gisa.blogspot.com). Se quiser passe por lá.
Beijos